Conto Social

    Eu me chamo Júlia, tenho nove anos e moro em uma pequena cidade do Rio de Janeiro. Desde que me conheço por gente, meu pai é motorista de ônibus. Como morávamos muito longe da minha escola e ela não disponibilizava o transporte escolar, eu ia com meu pai de ônibus até ela. Mas tinha algo que eu sempre notava: as pessoas olhavam para mim de maneira diferente e me tratavam de maneira diferente. A mesma coisa ocorria com meu pai.
      Uma vez no ônibus, tinha uma senhora em pé e só havia um assento, que era ao meu lado. Perguntei a ela se queria se sentar ao meu lado e, grosseiramente, ela me disse não e me olhou com um olhar julgador de que nunca me esqueço. E isso aconteceu mais de uma vez. Vi muitas meninas rindo do meu cabelo apenas por ser crespo e não liso como os delas.
      Meu pai passava por situações parecidas ou até piores e nunca vi ele se abalar com eu.
      Um dia, perguntei para ele o motivo disso tudo que passamos. Ele disse que eu ainda vou encontrar muitas pessoas assim na minha vida, mas preciso ser forte e não deixar que me diminuam pela minha cor, porque ela faz parte da minha história e de quem eu sou.
      Perguntei também por que ele não se abalava com essas situações que ele passa. Ele me disse que se ele fosse ligar para cada pessoa que fizesse isso, já teria entrado em depressão e, se ele denunciasse, claramente a polícia defenderia o agressor branco, pois vivemos em país com um forte racismo.
      Guardo essas palavras até hoje em meu coração e em como, com apenas nove anos, tive que amadurecer uns três anos a mais por causa dessa sociedade injusta e esse racismo estrutural enraizado. Saber que vou ter que enfrentar isso por muito tempo da minha vida dói muito, mas, infelizmente, essa não é só a minha realidade realidade e sim de milhares de pessoas. Isso, de certa forma, me faz me sentir mais forte e que não estou sozinha.
 
Produzido por Luiza Santos Eduardo
Aluna do 9º ano do C.E.M. Giovania de Almeida

 

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